MUNDO FM
Início, meio e futuro de Facility Management no Brasil
Uma área corporativa que chegou às terras brasileiras pouco antes da virada do milênio, difundida por empresas multinacionais que já a tinham em alta conta nos seus países-sede. Naquela época, por mais que tivéssemos profissionais afins procurando dar conta do recado, o termo Facility Management (FM) ainda era muito pouco ou nada conhecido por aqui, apesar de sua intenção para lá de oportuna: “a origem do nome ‘facility’ vem de facilitar, tornar fácil alguma atividade humana”, como explica o coordenador do curso de MBA/USP em Gerenciamento de Facilidades, Prof. Moacyr da Graça, que sabe bem a história desse movimento. “Na prática, a gente pode dizer que Facility Management mesmo, estruturado, começou basicamente nos Estados Unidos, foi para a Inglaterra e por ela entrou na Europa lá pelos anos 80”.
Com atraso de alguns anos, chegou ao Brasil e estimulou, em 2004, a abertura da ABRAFAC – Associação Brasileira de Facilities, hoje denominada Associação Brasileira de Facility, Management, Property e Workplace, com vistas a desenvolver o exercício da profissão no país. “No geral, o profissional de FM é responsável por gerenciar os contratos de serviços em uma empresa, garantindo a segurança e o conforto das pessoas, com melhoria da qualidade de vida, e contribuindo para a produtividade do negócio”, como define a CEO da FS EDUCA – Cursos e Soluções em Gestão de Facilities, Fátima Sousa.
Pau-para-toda-obra
Imbuído da missão de cuidar do bom andamento de pessoas, lugares e processos das corporações, Fátima acrescenta que “é essencial que o agente de FM tenha habilidades técnicas e comportamentais, as chamadas hard e soft skills, a depender do local onde ele trabalha”. Ao que o Prof. Moacyr da Graça acrescenta que “os dois grandes grupos de atividades no escopo de FM são aqueles que abarcam espaço e infraestrutura, com viés de engenharia, e outros que envolvem pessoas e organização, com viés de serviços ao usuário”.
Com relação ao perfil esperado desse profissional, Fátima alega que “antes de tudo, ele deve ter paixão por servir e disposição para aprender sempre, além de procurar manter-se atualizado por meio de cursos e eventos”.
E muita atenção ao se referir a esses profissionais, porque, apesar de atuarem no setor de facilities, nem todos são “Facilities Managers”: “é algo como serviço militar, onde nem todo mundo é general. Por exemplo, os chefes de segurança, de limpeza ou de manutenção, independentemente de serem profissionais de facilities, não são propriamente Facilities Managers, o que demanda formação adicional e específica”, conforme explica o Prof. Moacyr.
Vale o que está escrito
Legislação é outro ponto que não pode ser esquecido quando falamos de “Mundo FM”. Em 20 de março de 2023, o Ministério do Trabalho e Emprego finalmente incluiu a categoria de gerentes de Facility Management em sua Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sob o código 1.421-40, conforme comemora Fátima Sousa: “teremos as funções mais estruturadas, apesar disso variar muito entre as empresas e seus segmentos”.
No cenário internacional, o Prof. Moacyr, que é também um dos 12 membros convidados pelo IFMA para compor seu Research Advisory Committee, destaca a norma ISO 41.015, de 28 de fevereiro de 2023, que vem influenciar os comportamentos organizacionais para melhorar os resultados de FM, “porque se você hoje entende como as pessoas se comportam, você pode criar soluções mais adequadas para melhorar a operação de Facilities Management”.
O futuro já chegou
Com as adaptações forçadas pelo modelo híbrido de trabalho, pode-se dizer que os profissionais de FM já estão muitas casas à frente do tabuleiro. A julgar pela gestão dos ambientes digitais e remotos que vieram se somar sobremaneira aos tradicionais espaços físicos das empresas. “Passamos a ter uma rede de lugares que impõe aos agentes de FM o desafio de não ter mais só uma ‘facility’ para administrar, digamos assim, na perspectiva daquela expressão ‘bricks, bits and behavior’”, nas palavras do Prof. Moacyr.
Segundo ele, “nós saímos do workplace fixo para o workplace flexível e vamos ainda, dentro em breve, para plataformas híbridas, com foco mais centralizado no indivíduo, em sua saúde e bem-estar, e no meio ambiente”. Prova do que está visionando é a carta de intenções que foi redigida por ele e mais dez autoridades mundiais em FM, durante o Fórum Internacional de Facility Management 2022, em São Paulo, promovido pela Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (ABRALIMP). “É um documento básico para orientar a carreira do profissional de FM. Se ele se guiar por essa pauta, poderá até não estar 100% no caminho, mas terá a certeza absoluta de estar na direção correta”.
FORMAÇÃO PRA QUE TE QUERO
Diferente de países como a Holanda, que oferece vários cursos de graduação e pós em FM, “no Brasil, o foco se concentra em especialização em MBAs de profissionais de nível superior”, conforme conta o Prof. Moacyr, ele próprio fundador do primeiro curso nessa modalidade no país, em 2002: “no nosso MBA, nós ministramos na especialização, o conhecimento necessário para o profissional graduado poder gerenciar um patrimônio ou um portfólio de facilities”. Ele lembra que ainda não temos nada no Brasil em nível de graduação: “a única iniciativa que conheço por aqui foi a introdução de uma disciplina no curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da USP, há cerca de cinco anos, para que esse engenheiro conheça, pelo menos, os fundamentos de Facilities Management”.
Com relação a certificações profissionais, as mais comuns são as emitidas pelo IFMA, entidade internacional. E, por aqui, a ABRAFAC iniciou há pouco o seu programa de formação profissional. Ainda temos os treinamentos oferecidos pela iniciativa privada como a FS EDUCA, com 12 anos de experiência em capacitação no mercado de FM: “Atualmente temos um corpo docente de quase 30 facilitadores que ministram aulas para os níveis iniciante, intermediário e avançado. Como instituição reconhecida no Brasil e no exterior, fazemos revisões semestrais da grade curricular a fim de atender às legislações e tendências nacionais e internacionais. Nesse sentido, a título de exemplo, incluímos no ano passado a disciplina ‘Análise de Dados’ (no curso Facility Management Avançado), porque é muito importante o profissional de FM entender como utilizar todas as informações e números que encontra em suas atividades para transformá-los em insights de decisões. Outra disciplina que temos há anos na grade é ‘Eficiência Energética’, a fim de que os alunos tenham conhecimento suficiente para reduzir o custo de energia, sem causar queda de produtividade”, comenta a CEO da empresa, Fátima Sousa.
Como figuras de destaque no “Mundo FM”, tanto ela quanto o Prof. Moacyr sonham e trabalham arduamente pela expansão da atividade. Segundo o professor, “a gente precisa de multiplicadores e, para isso, de muitas escolas de Facilities Management para, inclusive, arranjar lugar para o pessoal que concluiu o MBA poder dar aula, ampliando e melhorando, assim, a rede de FM no Brasil”. Para quem pretende dar o pontapé inicial na formação, Fátima recomenda que “quando for buscar um curso, seja pós ou livre, observe quem ministra as aulas, se é apenas uma ou mais pessoas e, principalmente, sua experiência e participação no mercado, tanto em grupos informais (como ‘GAS Facilities’, ‘Grupas’, ‘Mulheres em Facility Management’) quanto na própria ABRAFAC. Isto faz uma grande diferença”.