GENTE & GESTÃO
Seja no modelo presencial, híbrido ou remoto, o maior objetivo de FM deve ser encorajar sua equipe e fidelizar seus clientes
“Facilities pra mim é estratégia e, não, operação”. Assim definiu o administrador de empresas, Paulo Sérgio Fontebasso, do alto dos seus mais de 40 anos de mercado. Um dos fundadores e primeiro vice-presidente da Associação Brasileira de Facility Management, Property e Workplace (ABRAFAC), ele destaca o perfil criativo e empreendedor que o profissional de FM deve ter e aposta no modelo híbrido de trabalho como o melhor que se tem hoje em termos de gestão. No entanto, faz questão de frisar que “nunca vamos ter o mundo ideal”:
“O desafio do modelo híbrido, crescente nos dias de hoje, é motivar as pessoas a entenderem que o melhor modelo é aquele que atende às duas partes, tanto empregados quanto empregadores. Até porque problemas sempre vão acontecer e é aí que deve entrar o profissional de Facilities para fazer a diferença, buscando soluções no menor tempo possível e sem entrar naquele desespero de que o mundo vai acabar”.
Paulo Fontebasso elege a escala de dois dias em home office e três no formato presencial como a melhor alternativa de modelo híbrido. Mas, como ele mesmo diz, trata-se de uma escolha nada engessada e que deve ser observada dia após dia em cada organização: “entendo que essa tabela de jornada pode beneficiar os colaboradores ao ficarem fora o fim de semana tradicional mais dois dias úteis em suas residências, na convivência familiar e sem o desgaste da locomoção do dia a dia. Isso sem prescindir, claro, dos outros dias no modelo de trabalho presencial, que agrega muito em termos de relacionamento e de agilidade nas tomadas de decisões e feedbacks”.
Com base na experiência
Muito antes da pandemia de Covid-19 pegar o mundo de surpresa, obrigando todos a se adaptarem quase que do dia para noite, Fontebasso lembra que ele próprio já havia experimentado o trabalho remoto ao longo de sua carreira, o que, para determinadas funções, pode bem levar a resultados mais satisfatórios: “a minha experiência desses anos todos, quando eu produzi mais, dentro de uma função estratégica, foi quando eu não tinha obrigação de estar no escritório pessoalmente e em horário integral, porque eu tinha uma equipe que me assessorava e a minha parte era olhar o todo, negociar com os clientes internos e externos, trazer inovações e motivar as pessoas para que elas produzissem e alcançassem os resultados esperados. E a minha mente funcionava muito melhor”.
Em se tratando de modelo híbrido ou totalmente remoto, Fontebasso acrescenta que cabe àqueles que estiverem na liderança promoverem o “aculturamento” de suas equipes: “o que isso quer dizer? É começar a falar para o seu funcionário que não importa se ele for trabalhar de traje esportivo ou de terno e gravata, acordar às sete ou às onze da manhã e obedecer ou não a tantas outras regras de conduta. O que se pretende é utilizar o bom senso e o respeito às atividades e pessoas, de modo a atingir os resultados e metas acordadas entre as partes, mudando aquela percepção antiga de que tudo só funciona se alguém estiver olhando no dia a dia”.
Num cenário ao menos próximo do ideal, seria bom que as empresas conseguissem mapear o perfil de cada contratado, de modo a perceber quais espaços e horários conduzem aos índices de excelência: “o funcionário que tem um filho doente em casa, por exemplo, vai estar no escritório, mas com a cabeça em casa. Então, ter flexibilidade de trabalhar sem a obrigação de ser aqui ou lá seria o melhor dos mundos, porque, além do indivíduo poder aumentar sua produtividade num ambiente mais favorável, o gestor ainda consegue evitar traços psicológicos que possam acarretar qualquer piora no rendimento”, explica Fontebasso.
Dinheiro não é tudo
Para quem pensa que a economia financeira deve vir em primeiro lugar na hora de decidir o modelo de trabalho, muita calma nessa hora! Nosso especialista alerta que há muitos outros fatores em jogo, como natureza da atividade, perfil dos trabalhadores, localização da empresa entre outros. Ele chega a citar o caso hipotético do empresário que indaga: “eu alugo 15 andares de um prédio na Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. Se eu colocar todo ou a maior parte do meu efetivo trabalhando de casa, quantos milhões eu vou economizar? Pergunta que serve para dizer que razões sociais que pensam assim não irão mais existir, pois os resultados devem ser, além de econômicos, emocionais, profissionais e de negócios como um todo”.
Paulo Fontebasso
FORMAÇÃO E TREINAMENTO A QUALQUER TEMPO, DE QUALQUER DISTÂNCIA
Apesar de tantas mudanças e adaptações que o passar do tempo exige, há formas de ser e de estar no mundo corporativo que são clássicas e, por isso, não saem de moda. Uma delas tem a ver com formação de pessoal e o próprio Fontebasso sonha que nunca mesmo saia de cena: “quando lançaram a tecnologia 3G, já havia outros desenvolvendo o 4G, num processo de aprimoramento constante – o que pode ser aplicado perfeitamente à gestão de pessoas.
Da minha parte, inclusive, sempre que me perguntavam se eu não temia perder meu posto por estar ensinando e treinando minhas equipes, eu respondia que não, pois, quando tivessem me alcançado, eu mesmo já deveria estar apto a subir de patamar, numa evidência clara de que pessoas sendo motivadas dão maior retorno e acabam por ser reconhecidas independentemente do modelo de trabalho e de qualquer distância”.