Ping-Pong
Projetos para “mente sã, corpo são”!
Área em franca expansão mundial tem como referência no Brasil o arquiteto e urbanista Lorí Crízel – professor no POLI.Design do Instituto Politécnico de Milão, na Itália, com experiência em escritórios internacionais como Norman Foster e Zaha Hadid, ambos na Inglaterra, e BIG, na Dinamarca.
FM Connection: Qual é o conceito de neuroarquitetura?
Lorí Crízel: Neuroarquitetura é uma área interdisciplinar que busca combinar os insights da neurociência com os princípios do design arquitetônico para entender como o ambiente construído afeta o cérebro humano e, em última análise, o comportamento e o bem-estar.
Isso envolve a compreensão de como diferentes aspectos do espaço – como cores, iluminação, sons, texturas, formas, volumes, composição e até mesmo odores – podem impactar a cognição, as emoções e a saúde de uma pessoa. O objetivo é usar esses insights para criar ambientes construídos que promovam melhor funcionamento cognitivo, saúde mental, interação social e bem-estar geral.
FM: O que muda na hora de planejar os espaços, sobretudo no mundo empresarial ou corporativo?
LC: A neuroarquitetura redefine o planejamento de espaços corporativos através do emprego da neurociência. Espaços flexíveis favorecem a produtividade, permitindo adaptações conforme a necessidade. O design biofílico, com elementos naturais, reduz o estresse e estimula a criatividade. Zonas de trabalho dedicadas promovem a eficácia em tarefas variadas, com espaços tranquilos para foco e espaços abertos para colaboração. A iluminação e a cor impactam na saúde, produtividade e humor. O controle acústico minimiza distrações, assim como o design ergonômico promove conforto físico. Conceitos como Design Salutogênico são aplicados para evitar a fadiga e a possibilidade de adoecimento, físico e psíquico. Assim, a neuroarquitetura impacta significativamente a saúde e o bem-estar dos funcionários.
FM: Ao projetar um ambiente de trabalho, como as escolhas de materiais e definição de medidas, entre outras tomadas de decisão, podem impactar a produtividade?
LC: O design do ambiente influencia fortemente a produtividade. Utilizar materiais naturais e absorventes de som contribui para o bem-estar e a concentração. O tamanho e layout do espaço devem evitar claustrofobia e o isolamento, promovendo colaboração. A iluminação, idealmente natural, é vital para regular o relógio biológico e a visão. Ventilação e plantas elevam a qualidade do ar e combatem a fadiga (princípios de design biofílico). Cores, iluminação, sons e odores afetam o humor e a conectividade com o espaço. Móveis ergonômicos são vitais para a saúde a longo prazo. Portanto, decisões de design são cruciais para a eficácia no ambiente de trabalho.
FM: De que forma a neuroarquitetura dialoga com o tema sustentabilidade?
LC: A neuroarquitetura e a sustentabilidade se entrelaçam, focando na criação de ambientes benéficos para as pessoas e o planeta. A biofilia, “amor pela natureza”, é crucial em ambos: o design biofílico melhora o bem-estar humano e fortalece a conexão com a natureza. Materiais naturais e sustentáveis, como aqueles com baixo teor de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs), beneficiam tanto o planeta quanto a saúde humana e melhoram a qualidade do ar. Edifícios com eficiência energética, que aproveitam a luz natural e possuem bom desempenho térmico, reduzem o uso de energia e criam ambientes agradáveis. Ambas as disciplinas almejam espaços que promovam saúde humana, melhorando a qualidade do ar e da água e incentivando atividade física e interação social. Juntas, levam a designs benéficos para as pessoas e o planeta.
FM: Em tempos de trabalhos híbrido e remoto, considerando práticas sustentáveis, quais são as contribuições da neuroarquitetura?
LC: Em um cenário de trabalho remoto e híbrido, a neuroarquitetura faz-se essencial. Diversos aspectos tratados como foco no desenvolvimento projetual, via neuroarquitetura, promovem saúde e concentração. Espaços flexíveis, capazes de se adaptar a diferentes necessidades, são necessários para equilibrar trabalho e vida pessoal. Elementos naturais nos espaços de trabalho melhoram o bem-estar, produtividade e sustentabilidade, além de melhorar a qualidade do ar. Considerações de sustentabilidade incluem uso de materiais sustentáveis, eficiência energética e minimização do desperdício. A neuroarquitetura contribui para espaços produtivos, saudáveis e ecologicamente corretos.
FM: Para um futuro nem tão longe, arriscaria dizer que tipo(s) de ambientes de trabalho irá ou irão prevalecer?
LC: As previsões para o futuro do ambiente de trabalho incluem a possível predominância do trabalho híbrido, que equilibra as demandas pessoais e profissionais. Os escritórios poderiam focar mais na colaboração e socialização, com trabalhos individuais sendo realizados em ambientes calmos. O design biofílico e sustentável, que integra elementos naturais e práticas ecológicas, pode crescer em relevância à medida que a saúde e o bem-estar se tornam prioridades. Tecnologias emergentes podem possibilitar a criação de espaços de trabalho personalizáveis. Com a redução da necessidade de escritórios fixos, os escritórios comunitários e o coworking podem se popularizar. Contudo, o futuro do design de ambientes de trabalho é incerto devido a múltiplos fatores, principalmente tecnológicos, e permanece em constante evolução.