LOGÍSTICA
Há quase 50 anos no Brasil, tecnologia sobre trilhos subterrâneos não para de acelerar na maior cidade da América Latina
Era 14 de setembro de 1974 quando o primeiro trem metroviário da capital paulista começou a circular pela então linha Norte-Sul, parte da atual linha 1 ou Azul, cobrindo apenas o trecho entre as estações Jabaquara e Vila Mariana. Hoje, quase cinco décadas depois, a malha compreende seis linhas com total de 104,4 quilômetros e 91 estações, sendo 63 delas operadas pela própria Companhia do Metropolitano de São Paulo (CMSP). E os cerca de três milhões de passageiros que usufruem diariamente desse meio de transporte nem imaginam o quanto essa tecnologia sobre trilhos já começou quebrando barreiras:
“A questão tecnológica está no DNA do metrô e já nasceu disruptiva na São Paulo dos anos 70, seja pelo aspecto arquitetônico das estações, pelo método construtivo dos túneis ou pelas dezenas de escadas rolantes até então inéditas na cidade. Isso sem falar na série de inovações embarcadas nos trens, fabricados à época com aço inoxidável, com ganhos em robustez e durabilidade”, comenta o Chefe do Departamento de Engenharia do Centro de Controle Operacional (CCO), Marcelo Lemos.
Com o passar dos anos, a engrenagem só melhorou a reboque dos inúmeros avanços tecnológicos empregados: “no que tange à operação, nós utilizamos ferramentas, como internet das coisas (IoT), realidade virtual, desenvolvimento de analíticos e visão computacional, para promover, inclusive, treinamento dos mais de 2.500 funcionários. Em manutenção, temos laboratórios eletrônicos extremamente equipados de onde fazemos monitoramento preditivo dos milhares de ativos. Quanto ao controle, fomos pioneiros no mundo a adotar o “Controle de Trens Baseado em Comunicação” (CBTC), que permite maior eficiência na prestação do serviço. E com relação à inovação, temos um núcleo que estabelece parcerias com universidades, governo e empresas públicas e privadas para equacionar problemas que possam surgir em manutenção ou operação”, destaca Marcelo Lemos.
“A questão tecnológica está no DNA do metrô e já nasceu disruptiva na São Paulo dos anos 70, seja pelo aspecto arquitetônico das estações, pelo método construtivo dos túneis ou pelas dezenas de escadas rolantes até então inéditas na cidade”.
Segurança em todos os sentidos
Com uma rede de trilhos tão capilarizada, todo cuidado é pouco em matéria de integridade física tanto dos trens quanto das pessoas. Por isso, “o metrô paulista está implantando um sistema de monitoramento eletrônico com mais de cinco mil câmeras, utilizando-se de inteligência artificial, para eliminar pontos cegos em toda a área operacional e conseguir, entre outras ações, identificar passageiro com comportamento ameaçador, criança perdida e objeto suspeito deixado nas estações”, conforme explica o chefe de engenharia.
A inteligência artificial também está sendo aproveitada, como o próprio nome já diz, no projeto “Metro Inteligência Artificial” (MIA), que visa simular situações de risco para trabalhar as centenas de procedimentos que funcionários do Centro de Controle Operacional devem conhecer. O objetivo é que todos os operadores de console estejam aptos a tomar decisões rápidas e assertivas nos momentos de estresse ou de crise, na garantia da segurança e da restauração do sistema.
Para o futuro, o gestor de engenharia Marcelo Lemos acredita que a tecnologia ainda pode oferecer muitos recursos para melhorar a autonomia ou experiência do usuário, uma vez que a prestação de serviços possa ser plenamente customizada: “idosos e pessoas com deficiência (PCDs), por exemplo, precisam circular com conforto e confiança pelos nossos trens e estações. Daí, por meio do projeto ‘Estação X’, nossa ‘estação do futuro’, estamos praticando uma visão de médio e longo prazos, testando tecnologias que possam aumentar a interação e o bem-estar dentro de todo o organismo do metrô.”
Um dos “Sete gênios do metrô”
O engenheiro eletricista e consultor em tecnologia ferroviária, Peter Alouche, integrou a primeira equipe de sete engenheiros e arquitetos que lançou a pedra fundamental da rede metroviária de São Paulo. Inspirado no sistema de metrô da cidade norte-americana de São Francisco, ele lembra que os primeiros trens foram construídos com tecnologia 100% nacional pela antiga empresa paulista Mafersa (Material Ferroviário S/A). À época, foram encomendadas unidades de seis vagões para até dois mil passageiros, que vieram cumprir intervalos de dois minutos, transportando 60 mil pessoas por hora/sentido. “Fomos o primeiro sistema metroviário do mundo a ter um centro de controle único, o CCO na estação Paraíso, e o primeiro da América Latina a operar automaticamente, sem condutor, e a instalar portas de plataforma contra acidentes na via. E o metrô de São Paulo foi e é um sucesso, porque foi instalado no coração da cidade, onde tem demanda de usuário”, orgulha-se o “genial” egípcio naturalizado brasileiro que ajudou a trazer para cá o célebre aviso: Mind the gap between the train and the platform*!
*Cuidado com o vão entre o trem e a plataforma