6º FM CONNECTION
Chegamos a mais uma edição do FM Connection e, dessa vez, o tema é Gestão de Conflitos em FM. Os embates estão presentes no nosso dia a dia e profissionais de todas as áreas inevitavelmente se deparam com eles. Se a princípio podemos achar que a mediação de conflitos não se enquadra dentre as atribuições diárias de um profissional de Facility Management, é melhor pensarmos melhor: os imbróglios estão presentes no cotidiano dos profissionais de FM e requerem habilidade para ser resolvidos.
O 6º FM Connection, dividido em duas partes, traz uma novidade: apenas mulheres gestoras foram convidadas a participar das mesas e nossa escolha não foi aleatória. Historicamente, elas buscam resolver os conflitos que surgem de maneira menos agressiva, mas nem por isso menos assertiva. Por meio de bate-papos descontraídos, nossas convidadas vão falar de suas ideias e experiências sobre a gestão de conflitos e como isso pode afetar o trabalho dos profissionais de facilities.
Conflitos pessoais
Para começarmos a falar sobre os possíveis conflitos dentro de uma empresa, vamos abordar aqueles internos, problemas que cada um passa em sua vida pessoal, mas que, indiretamente, podem acabar afetando o desempenho da equipe. Fases de luto ou de divórcio, por exemplo, podem causar extrema tristeza e acabar por desconcentrar e afetar o trabalho de uma pessoa. Por mais que não seja uma crise de relacionamento direto entre o indivíduo e a equipe na qual ele estiver inserido, problemas pessoais podem acabar por interferir negativamente no desempenho. Outro momento bastante delicado e que pode gerar conflitos no trabalho é a maternidade. Nesse caso, as mulheres são bem mais afetadas que os homens. Historicamente, a elas é atribuído o dever exclusivo de cuidar dos pequenos. E quando um filho adoece ou precisa de cuidados especiais? É justo esperar que essa profissional seja afastada de suas funções? Então, como alcançar o tão desejado equilíbrio e evitar que a maternidade seja um empecilho ao desenvolvimento profissional? Muitas mulheres são mães-solo e o dilema pode começar com a necessidade do emprego para sustentar o filho. Por outro lado, para manter e investir em uma carreira, é preciso contar com uma rede de apoio do lado de fora. Mas e quando a mulher não tem essa rede? Como mediar os possíveis conflitos com a equipe, que acabam por afetar o desenvolvimento do trabalho?
Negociações entre contratantes X contratados
Qualquer facility manager já deve ter experienciado conflitos nas relações entre contratante e contratados, sejam eles fornecedores externos ou funcionários da empresa. Nessa relação, os conflitos podem surgir por diversos motivos que vão desde a falta de preparo dos profissionais envolvidos, até contratos mal redigidos que deixam margens para dúvidas em relação aos direitos e deveres de cada um. É preciso ter clareza nas relações para evitar conflitos que não precisariam acontecer se tudo tivesse sido combinado antes. Algumas empresas acabam pedindo além do que está previsto em contrato e abusando do seu poder. Não se pode esquecer que, como contratante, é preciso que o profissional de FM forneça os meios para que seus contratados entreguem os resultados esperados – mesmo que isso seja difícil e signifique romper com a “cultura da empresa”. Quando as negociações de contrato, por outro lado, atendem apenas aos critérios de preço, as linhas de conduta ética e a especialização dos profissionais acabam sendo deixadas de lado. Nem sempre um fornecedor que tem o melhor preço vai, necessariamente, oferecer o melhor serviço. Contratar uma pessoa especializada não pode ser o mesmo do que comprar insumos de escritório ou material de limpeza, sob o risco de contratar profissionais sem a expertise desejada. Outra fonte de desconforto e possíveis conflitos é quando algum grupo se sente invisibilizado; quando a empresa, nitidamente, faz diferença entre grupos, disponibilizando ambientes com mobiliário, climatização de ar, café, lanches diferentes para cada setor. Por exemplo, se o café em um departamento for feito naquelas cafeteiras de cápsulas, o do outro não pode ser requentado ou servido em garrafas térmicas. Quando isso acontece, é provável que se crie um clima adverso, cheio de animosidade e competição entre as áreas. Essa diferença acaba sendo um elemento catalisador para a segregação dentro da própria empresa.
Conflitos éticos
Eis aí outro tipo de imbróglio que ninguém quer ver no seu ambiente de trabalho: conflito ético. A ética deve estar presente em todas as nossas relações, e não poderia ser diferente no nosso ambiente de trabalho. Um profissional de facility management facilmente pode listar uma série de conflitos de interesse que surgem no dia a dia da profissão. Para exemplificar, é preciso ter muito cuidado na hora da contratação de um funcionário ou de um fornecedor. Ter referências sobre o bom serviço do profissional é desejável, ainda que isso possa não ser o melhor critério para a escolha. E como garantir a lisura do processo de contratação, se não houver certeza de que o contratante é isento de interesses?
Uma atitude simpática também pode ser grande fonte de conflitos. Duvida? Basta imaginar um presente dado por qualquer uma das partes, contratante e, principalmente, contratado, que, por passar longe das regras de compliance da empresa, pode acabar por afetar negativamente a percepção da marca junto à opinião pública. Logo, melhor evitar conflitos dessa natureza…
Ruídos na comunicação
Toda comunicação empresarial deve levar em conta que seu público-alvo é formado por pessoas com diferentes conhecimentos e bagagens culturais. Contudo, é preciso que todos possam entender a mensagem da mesma maneira para evitar conflitos e mal-entendidos – o que se encaixa perfeitamente quando falamos de uma comunicação que venha da cúpula da empresa para seus funcionários, sejam eles do nível hierárquico que forem.
Mas e quando os conflitos surgem em áreas que se apoiam mutuamente? Por falta de comunicação, áreas que deveriam trabalhar em sintonia acabam criando soluções antagônicas para o mesmo problema. E todos os departamentos precisam andar no mesmo passo, com áreas que se apoiam trabalhando de forma coordenada – o que não tem como dar certo se as áreas não se comunicarem.
Outro tipo de conflito dá-se quando certos gestores deparam-se com situações de trabalho híbrido. À distância, a comunicação torna-se mais difícil, porque o gestual é percebido com barreiras e a comunicação não-verbal acaba perdendo-se. Depois da pandemia, há empresas que já voltaram ao modelo 100% presencial, mas outras ainda mantêm o modelo híbrido até por questões de redução de custos. Como evitar conflitos e motivar os funcionários em cada regime?
Todas essas são questões que concernem à comunicação e, sem um canal adequado, as empresas ficam fragmentadas, tornando-se impossível criar um fluxo de trabalho e dar andamento ao que precisa ser feito. Afinal, sozinho, nenhum funcionário consegue entregar todo o serviço.
Outros dilemas
Os temas de Sustentabilidade e Diversidade, Equidade e Inclusão também podem ser fontes de conflito em qualquer ambiente de trabalho.
Primeiramente, vamos tratar de sustentabilidade: diante da situação climática do planeta, é imprescindível que toda empresa faça a sua parte e sempre opte por soluções sustentáveis para o seu dia a dia. Até aí, todos concordamos. Mas como baixar custos e ser sustentável ao mesmo tempo? Nesse caso, o conflito ocorre porque os gestores sempre sofrem pressão para reduzir o orçamento, o que resulta em opções não-sustentáveis, que, em geral, são mais “baratas” a curto prazo.
Em relação à Diversidade, Equidade e Inclusão, os gestores precisam criar ambientes seguros para que cada um sinta-se à vontade para ser quem é. As regras da empresa para punir e, principalmente, coibir atitudes racistas, homofóbicas, transfóbicas e misóginas devem ser severas. Importante ressaltar que, quando surgir algum problema dessa natureza, é preciso separar o que é conflito do dia a dia entre colegas de trabalho, de atitudes que refletem racismo e preconceito.
As “saias justas” que abordamos aqui são as mais usuais que podem afetar o funcionamento de uma empresa, mas obviamente, como profissional de FM, você deve conhecer e já ter vivenciado muitas outras!